Publicado em 26/01/2023 | 3091 Impressões | Escrito por Gilmar Ribeiro

O Cemitério dos Calazans

*Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com pessoas, fatos e situações reais terá sido mera coincidência

        Quando Juan-Pablo Ortega y Calazans morreu todos ficaram se perguntando em qual cemitério seria enterrado; os filhos sabiam que o campo santo mais próximo, que aceitava qualquer defunto, ficava a quarenta e oito quilômetros donde moravam; inviável, portanto, carregar o finado até esse longínquo povoado.

        Muito embora existissem vários cemitérios na região de São João dos Estevão, a tradição local rezava que morto duma família não poderia ser enterrado no campo santo da outra, por isso que todo cemitério carregava o sobrenome do primeiro defunto ali sepultado, o seu legítimo fundador: “Cemitério dos Britto”, “Cemitério dos Moura”, “Cemitério dos Lacerda”, “Cemitério de Fulano”, “de Sicrano” e “de Beltrano”, e por aí vai.   

        A família Calazans, por seu turno, sentiu-se na obrigação de também fundar o seu próprio campo santo, já que não poderia enterrar o falecido em nenhum deles.  Após reunião em família, escolheram um altiplano suavemente inclinado, demarcaram o local, onde fincaram uma cruz de pau d`arco, indicando que naquele lugar descansaria o espanhol Juan-Pablo Ortega y Calazans, agora no seu particular cemitério.

        O curioso é que os Calazans nunca tiveram tal preocupação, porque até então não houvera caso igual na família, mas com a súbita morte do velho pai, tiveram que agir com urgência, em razão de que defunto não espera. Tudo teve início quando o jovem Calazans e sua mulher pisaram naquele isolado recanto na época das chuvas em 1907, que no sertão se inicia em outubro indo até março, o recém-chegado, mesmo amancebado com uma filha da terra, fora recebido com grunhidos e olhares atravessados.

        O composto nome Juan-Pablo, os quais os nativos tinham dificuldade em pronunciá-los, o moço Calazans logo os tratou de aportuguesá-los para João Paulo; mesmo assim todos o tratavam como “o forasteiro de fora”, redundante expressão, mas que todos sabiam a quem se referia, por ser ele o único naquelas paragens.

       Juan-Pablo, um sujeito do Norte da Espanha, era de estatura média, um moreno claro de cabelo preto e lustroso, de voz firme e olhar brilhante, como todos dessa região do mediterrâneo, homem que trabalhava que nem um mouro; quem o visse de sol a sol jamais imaginaria que aquele velhote robusto e empertigado haveria de morrer de mal súbito. Mas, para tristeza de todos, infelizmente aconteceu. O senhor Calazans acabara de completar setenta e sete anos. Cinquenta e dois anos de Brasil.

        A vida de Juan-Pablo Ortega y Calazans sempre fora recheada de experiências de viagem; –– jamais haveria ele de se queixar na velhice que tivera uma vida monótona –– com dezessete anos se alistou na Marinha Espanhola, ao dar baixa, logo se fez marítimo de um navio mercante que fazia rota entre o Caribe, as Américas espanholas, África, e por fim Brasil.

        Ao atracar no cais de Ilhéus, Sul da Bahia, enquanto o navio cargueiro era abarrotado do precioso cacau, o comandante agia como de costume: liberava a marujada para se divertir na cidade; sem antes deixar de sobreaviso que o navio zarparia às seis horas da manhã do dia seguinte.

        O embarcado Juan-Pablo e mais dois amigos afastaram-se dos demais, indo parar numa enseada onde havia um quiosque com muito baticum, bebida e mulheres. O correr do dia e o anoitecer fora de muita farra. Antes da meia-noite, separaram-se. O marujo Juan-Pablo, meio embriagado, levado pelos atrativos duma morena, que se dizia morar nos arredores, acompanhou-a sem pestanejar.

        Ao amanhecer, ainda meio zonzo, atabalhoadamente se vestiu num pulo, logo perguntou pelos companheiros e onde estava, quis também saber do navio ancorado no cais; ela, embaraçada com seu linguajar, apenas balançava a cabeça. Então, através de gestos, se fez entender que era marinheiro, que estava falando do navio cargueiro que veio buscar cacau. Finalmente a moça apontou à direção dos armazéns do porto; feito um maluco saiu em disparada. Tarde demais, o navio havia zarpado. Sentado no cais, por longo tempo ficou a olhar o mar inutilmente.

        Assim tiveram início as suas aventuras em terra brasileira. Isto se deu em 1903, contava ele vinte e três anos de idade.

        No porto, por meses ficou morando nos armazéns das docas, aprendendo o idioma, a conhecer pessoas e malandros. Em barcos pesqueiros, fazia pequenos reparos como cortar e cozer de agulhão as velas; a tecer cordames para mastros de veleiros; a vedar com betume frinchas de cascos e a ensinar meninos e adultos a dar nós de marinheiro. A moça, que conhecera na farra da enseada, apresentou-lhe uma amiga, com quem logo passou a morar numa casinha no extremo da praia do Pontal. Por quase dois anos tentou embarcar em navios de outras bandeiras, contudo sem sucesso. Os comandantes sempre alegavam documentos incompletos. Repetiam-lhe: “Procure a Embaixada da Espanha na capital da Bahia”–– conselho que nunca conseguiu levar a cabo.

        A sua vida como embarcado, em comparação com a que vivia naquele momento, era de riqueza, não que ali a vida fosse de toda ruim, pois não lhe faltava o que comer nem o que vestir, e com o tempo as amizades foram se enraizando, ajudando-o a viver com mais dignidade. Em suma, ele não era o primeiro nem o último abandonado, ou esquecido, em um porto qualquer do mundo. Resignado, aceitou o seu destino e resolveu não mais tentar retornar ao seu país; se algum dia acontecesse seria para rever os pais e a irmã, bem mais nova que ele.

        A moça de nome Carmem Lacerda de Souza Santo Estevão, de vinte anos, com quem estava vivendo, não era filha do litoral, dizia ter família em São João dos Estevão, remoto povoado perdido no sudoeste sertão da Bahia, fundado por seus antepassados. Durante a convivência, disse-lhe a jovem que viera passar uns dias em casa de parentes, de onde nunca mais saiu. “Isso já vai pra mais de cinco anos. Eu tinha quinze anos quando vim pra cá”–– respondeu ela, mediante pergunta sua.

        A safra do cacau iniciava em setembro e encerrava em março do ano seguinte; fonte de renda para muitos trabalhadores do litoral de Ilhéus. Por quatro anos, Juan-Pablo e a mulher se entregaram a colheita do cacau com sofreguidão; nas entressafras, o espanhol se punha a fazer qualquer serviço que rendesse dinheiro, tudo guardado com extrema avareza.

        Em outubro de 1907, inicio das águas, abandonaram o litoral com destino ao sertão, já então de posse duma boa economia em mãos. A difícil viagem em lombos de animais quase fez Juan-Pablo desistir. Mas como amava aventuras e não era homem de deixar nada pelo caminho, encarou resolutamente os dias de jornada.

        No povoado de São João dos Estevão, apearam ambos com os fundilhos esfolados, maltratados de carrapatos, noites insones, magros pela comida sapecada, sujos e fedorentos; até os animais, acostumados à dura lida nos cacauais, mostravam–se abatidos pela mudança climática, trilhas dificultosas e pastagens as quais não estavam habituados.

        A decepção fora enorme para Juan-Pablo; uma vez que o lugar era primitivo, pobre e montanhoso. Os moradores viviam numa lassidão anêmica, meio a uma servidão atemporal em uma região rica em matas, de terras intocadas e improdutivas. Muitos sobrevivendo da coleta de frutos e da caça,  –– feito caboclos. O dinheiro que trouxeram era o suficiente para comprar mais de quinze alqueires, para ele uma imensidão de terras; –– economias que aplicadas no litoral dava apenas para um hectare –– uma vez que eram terras valorizadas pela riqueza do cacau.

        Assim analisando, as vantagens eram maiores em permanecer; então comprou, vizinho as terras da família da mulher, onze alqueires, ainda restando-lhes boa soma, que empregado em algumas cabeças de gado, animais de carga, e pequenos animais domésticos, os ajudou a suportar tempos difíceis, o porvir.

        Os seus descendentes agora se viam às voltas com o enterro de seu genitor João Paulo Ortega y Calazans, que a partir de então haveria de se tornar tão brasileiro quanto os gentios, ou até mais com a inauguração do “Cemitério dos Calazans”, nas terras que tanto aprendeu a amar.

        Em vida, o senhor Calazans via a aquela separação familiar de cemitérios como algo incompreensível. No seu país, a Espanha, os cemitérios eram coletivos para todos os cristãos; exceto para os judeus e mulçumanos, os quais, por questões religiosas, tinham o próprio campo santo, sempre ao lado do dos cristãos, tradição secular que todos respeitavam. Ainda em vida, também alimentou o sonho de um dia morrer em sua península; no entanto o tempo passou, as coisas vão encolhendo, inalcançáveis ficam, voláteis feitos sonhos; por fim restando ao indivíduo tênues recordações.

        Toda minha vida eu sempre tive uma estranha atração por povoados ou cidades pequenas. Nos pequenos povoados ou pequenas cidades, os velhos desentendimentos, os causos de outrora, esquecidos ou não, as indignações e as desgraças, as estórias populares, fantasmagóricas, parecem incapazes de morrer; permanecem sempre no imaginário, adormecidas nas mentes, prontas para despertarem ao primeiro prosear,

        Ao passar pelo povoado de São João dos Estevão, essa estranha atração se tornou ainda mais evidente quando me deparei no portal do “Cemitério dos Calazans”, amplo e cercado de pecado-pelado, zelosamente aparado, que mais parecia um muro, de carneiros conservados, em redor dos rasteiros túmulos, tudo limpo, capinado, sem ervas daninhas.

        Ao entrar no campo santo, três a quatro passos depois, notei que a vegetação que crescia, ou a já grande, se via apenas  fora dos seus limites. Ao sair, tive a forte sensação que aquelas pessoas há muito enterradas, agora meros cadáveres, estavam vivas, e que um deles, a qualquer momento se ergueria para me contar uma de suas estórias.

        Com a habitual convivência, observei que aquelas pessoas tinham um sotaque curioso; as falas eram de frases curtas e rápidas; ora nasais, ora guturais, interrompendo bruscamente o fim das palavras –– herança do linguajar indígena. Onde o cavalheirismo e a cortesia estão ligados a fantasia, ao caráter religioso e suas tradições, também à violência e à embriaguez, numa coesão incompreensível para um adventício que naquele lugar passasse a viver.

        Muitos destes povoados e pequenas cidades, encravados entre montanhas, continuam fundamentalmente iguais. São até hoje muito parecidos, apesar do progresso. Ao me aposentar, mudei radicalmente ao assumir integralmente a vida bucólica do campo, instalando-me no sítio, solitariamente passei a conviver, direto ou indiretamente, com esse vilarejo de 255 habitantes. Fiquei encantado com a vida ao ar livre, e a quase boa educação das pessoas. Onde passei também a escutá-las de forma diferente dos das grandes cidades, a ouvir estórias antigas e recentes. No qual, volta e meia, sou vitima de um contador compulsivo de causos, inventivo e mentiroso, porém sem maldade ou ofensa ao ouvinte.

        A vida de Juan-Pablo Ortega y Calazans fora uma destas estórias narrada por um dos seus descendentes, mas precisamente por um de seus netos, de nome Emiliano José Lacerda de Oliveira, legítimo Ortega y Calazans; sobrenomes suprimidos por seu pai por achá-los deveras complicados, verdadeiras agressões aos ouvidos do morador local.

        Como já disse, volta e meia, sacrifico-me em escutar estórias bobas, outras imbecis, repetidamente cansativas e chatas; sem maldade, contudo. No entanto, ainda existe indivíduo que sabe prender o ouvinte com bons casos, que mesmo requentados, soam como novos. Um deles, neto do velho patriarca Calazans, agora de sobrenome mudado para “Lacerda de Oliveira”, veio-me com um fato ocorrido em sua família, anos depois da morte de seu avô paterno João Paulo, o espanhol abandonado no porto. 

        “Assim que morreu meu avô, o velho Calazans, coisa de três a quatro anos, veio depois a falecer o irmão de meu pai, saudoso Joaquim, –– Joaquim Teimoso era o seu apelido. O tio Joaquim era o segundo de frente pra trás, um dos mais velhos. A causa da morte até hoje ninguém soube explicar direito, temos ciência apenas que morreu estuporado do calor de uma coivara depois de pegar uma friagem, segundo seus parceiros de empreitada, arroxeando-se todo caiu ele mortinho da Silva” –– deste jeito começou a me relatar, com um pouco de humor, não obstante ser o caso muito sério.

        “Esse meu tio, o Joaquim Teimoso, firmou um contrato de empreitada, ele e mais três, para desmatar dez pratos de mata, deixando pronta para o plantio de mandioca de farinha. O plano era terminar em meados de dezembro, antes do cair da chuva, mas, cinco dias antes do combinado, em antes do prazo, ele morreu de estupor, arriou, e não se mexeu mais do lugar. Ali ficou pronto no chão, como eu já falei pro senhor. Nessa mesminha noite a chuva desabou, –– o corpo estava sendo velado no copiá, porque dentro da choça não cabia todo mundo; –– chuva que entrou noite a dentro, sem parar, e tudo escureceu, parecendo o dilúvio da bíblia, descrito nas Sagradas Escrituras; o dia amanheceu e a chuvarada caindo sem dar trégua, sem parar.

        “O povo veio chegando debaixo dágua, a pé e montado, logo a choça estava lotada, encheu de gente de não caber mais. Antes do amanhecer, no entrar do dia, o povo foi providenciando comida, cachaça, café, e nada da chuva recuar: caia grossa do céu abaixo, céu pesado e escuro como breu. Entrou à tarde debaixo de raio, trovão, e muito mais água. Todos começaram a ficar preocupados, o defunto tinha que seguir viagem até o “Cemitério dos Calazans”, que ficava distante duas léguas e meia.

        “Um caixão foi improvisado, tosco, feito de aparas de prancha, de costaneiras, talhado a machado e facão; não havendo prego, ele foi todo pregado com cravos de ferradura pra cavalo. O caixão finalmente ficou pronto; –– um gaiato meio encachaçado disse que aquilo não parecia um caixão de defunto, parecia mais uma canoa, que o defunto ia mesmo precisar de uma com aquele pé-d`água  –– troça que lhe custou um banho de chuva, –– acrescentou com uma ponta de humor, o meu narrador.

        “O aguaceiro não tinha fim, não parava, foi aí que decidiram enterrar o defunto ali mesmo, no roçado, a vinte metros da choça; os familiares, sobretudo os homens, não concordaram. O meu pai e dois de meus tios, já com meia dúzia de pinga nas idéias, disseram eles que podia cair canivete, peixeira, facão, que o morto haveria de ser sepultado no cemitério deles, ao lado do velho Juan-Pablo Calazans; emocionada atitude que acabou por convencer os presentes. O meu tio defunto, que não era lá muito pesado, até meio magro, porém forte e musculoso, viera montado numa mula queimada, que era o seu xodó, então por bem e obrigação teria ela que levar ele até o campo santo.

        “As águas desciam das serras com estrondo ao escorrer pelas encostas; as quais, ao tocar nas partes baixas, riachos volumosos iam sendo formados, desembocando nos leitos dos ribeirões e rios secos, onde antes só se via areia e paus e pedregulho agora só se avistava água. 

        “A decisão de meu pai e de meus dois tios cabeças-duras foi severamente censurada pelo senhor Durval do Capim, homem idoso, sensato e sabido, homem prático, pois tinha morado em São Paulo e havia passado dos oitenta. O velho Durval, achando tudo aquilo uma maluquice, chamou num particular o meu pai, por ser o mais o velho, em seguida os outros dois; irredutíveis, eles não cederam, o resto da família emudeceu; finalmente decidiram todos seguir caminho, na cangalha o caixão amarrado de comprido no lombo da mula, partiram, então, estrada afora, sob a insistente chuva. Um resoluto grupo de aproximadamente quinze pessoas resolveu acompanhar. Coisa duma hora, agora sob um lamaçal medonho, a mula seguia cada vez mais cautelosa, a todo instante refugando; aos puxões e chicotadas, a contragosto, ela voltava no seu caminhar cadenciado, mas logo empacando sob qualquer motivo; novamente açoitada, tornava ela a prosseguir.

        “Num caminhar, como num vagar à toa, eles venceram penosamente quase uma légua, restando-lhes ainda perto de duas léguas, muito chão para um resto de dia tempestuoso. Ao descer a Serra do Tombo, depararam-se eles com o que mais temiam: a cheia do ribeirão da Ressaca, ponto de referência e parada obrigatória de tropeiros em épocas de chuva, tanto que a uma prudente distância existia uma cabana que servia de abrigo.

        “A mula empacou, corcoveou na beira do ribeirão, tome-lhe açoite, um homem se adiantou e foi puxando ela pelo cabresto; fez então ela que ia e se voltou, com isso o caixão começou a se afrouxar na cangalha, e ninguém tinha reparado; a mula de repente empinou, a carga se desprendeu, num arranque ela fugiu ladeira acima, aí o caixão deu um giro nos ares e fez tibungo dentro do ribeirão da Ressaca. O meu pai, de mãos na cabeça, desesperado, principiou a berrar: “Segura o caixão gente!... Segura o defunto! Ó, meu Deus do céu... a água tá levando nosso irmãozinho... Vamos atrás, minha gente, corre todo mundo, corre não, vai nadando todo mundo atrás do caixão!”–– o meu pai repetia inutilmente; sem se lançar, porém, nas águas, sem se mover do lugar, tanto ele como a maioria, não sabia nadar, ficaram, então, todos se lamentando na beira do ribeirão, as mulheres inda mais, pois rezavam e choravam.

        “O caixão que nem uma canoa desceu ribeirão abaixo, dois ou três mais corajosos aventuraram-se, mas logo se agarraram numa árvore tombada na margem oposta. Os homens, bem abraçados ao troco, viram o caixão desaparecer na primeira curva do turbulento ribeirão. –– Não é que o cachaceiro estava certo quando disse que caixão parecia mais uma canoa!–– troçou o sobrinho do morto, que me contava o caso.

        “O mais impressionante de toda essa aventura é que o caixão fora encontrado intacto, não abriu, estava inteirinho, fechadinho da Silva, o meu tio dentro, molhado que nem um frango em dia de chuva. O mais incrível ainda é que o caixão ficou encalhado num areal, numa das margens do ribeirão, menos dum quilômetro do nosso cemitério; assim foi encontrado no dia seguinte, antes do sol nascer, por um dos moradores de São João dos Estevão, até parente nosso, que ainda vive e pode confirmar o caso. A chuva não cedeu, não recuou. O coitado do meu tio foi enterrado na terra molhada, no meio da lama, debaixo de muita chuva. O tempo só levantou depois de encher aguadas, romper barragens, levar gente e animais, por doze dias caiu sem parar.

        Acostumei-me às estórias locais, assim bem contadas, com gestos teatrais e expressões pantomímicas; o que tornava o caso ainda mais verídico e engraçado. Um de seus irmãos me descreveu um caso muitíssimo engraçado, eu suponho que esse talento, essa facilidade de contar estórias estava no gene dominante dos Calazans; incubo-me porquanto em escrever o que ouvi no próximo conto.

 

Beira do Rio, Tremedal, fevereiro de 2016.

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